Deep Purple é uma
banda britânica de rock formada em Hertford, Hertfordshire, em 1968. Juntamente
com as bandas Black Sabbath e Led Zeppelin, o Deep Purple é considerado um dos
pioneiros do heavy metal e do hard rock moderno, embora alguns de seus
integrantes tenham tentado não se categorizar como apenas um destes gêneros. A
banda também incorporou elementos de música clássica, blues-rock, pop e rock
progressivo. Foram listados pelo Livro Guiness dos Recordes "como a banda
com o som mais alto ao vivo no mundo", e venderam mais de 100 milhões de
álbuns ao redor do mundo.
A banda passou por diversas mudanças de formação, além de
um hiato de oito anos (1976-84). As formações do período 1968-76 foram
comumente chamadas de fases I, II, III e IV. Sua segunda formação, a mais
bem-sucedida comercialmente, contou comIan Gillan (vocal), Ritchie Blackmore
(guitarra), Jon Lord (teclado), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria).
Esta formação esteve em atividade de 1969 a 1973, e foi reunida de 1984 a 1989
e, brevemente, em 1993, antes que os atritos entre o guitarrista Ritchie
Blackmore e os outros membros da banda se tornassem intransponíveis.
A formação atual inclui o guitarrista Steve Morse
(ex-Kansas, ex-Dixie Dregs), que entrou para banda em 1994. Com o afastamento
de Jon Lord, em 2002, o Deep Purple conta apenas com o baterista Ian Paice como
integrante original.
A marca da banda sempre foi a mistura de guitarra e
teclado, com riffs simples e fortes e solos vigorosos. Sua canção mais
conhecida é "Smoke on the Water", gravada em dezembro de 1971.
O início (1967-1968)
Em 1967, Chris Curtis, ex-baterista do The Searchers,
conectou o empresário de Londres Tony Edwards, na esperança de que ele
conseguiria um novo grupo que estava montando, para se chamar Roundabout. Eles
se revezariam em torno do baterista, como num carrossel. Depois de a ideia ter
sido comprada pelo produtor Tony Edwards, o primeiro músico a descobri-la foi o
tecladista Jon Lord, colega de Curtis nos The Flowerpot Men, onde também tocava
o baixista Nick Simper.
Era o final dos anos 60, e Curtis estava metido até o
pescoço no espírito da época. Certa vez, Lord entrou no apartamento e encontrou
as paredes cobertas de papel-alumínio. Seu colega havia redecorado a casa para
mudar o astral. Liga, desliga, cai na estrada: Curtis desapareceu. O grupo
achou um guitarrista - Ritchie Blackmore, conhecia um baterista - Ian Paice -
que trouxe um colega da The Maze - o vocalista Rod Evans. Com a saída de
Curtis, acabou a ideia do rodízio e a banda precisava trocar de nome. Em
fevereiro de 1968, depois de queimar pestana em uma lista de nomes que incluía
o pomposo Orpheus, acabou vencendo o título da música favorita da avó de
Blackmore: Deep Purple.
O primeiro disco, Shades of Deep Purple, foi lançado em
setembro de 1968. Recheado de regravações (incluindo versões progressivas de
"Help!", dos Beatles, e "Hey Joe", de Jimi Hendrix), o
disco estourou nas paradas de sucesso dos Estados Unidos com uma música de Joe
South: "Hush", o primeiro single da banda. Em dezembro daquele ano,
quando o segundo disco (The Book of Taliesyn) já havia sido lançado, eles
fizeram sua primeira turnê na América, acompanhando o Cream. Nessa turnê, além
de visitar a mansão de Hugh Hefner, criador da revistaPlayboy, o grupo também
descobriu que outro motivo de seu sucesso no Novo Mundo vinha do nome da banda
- o mesmo de uma droga então muito popular na Califórnia. O segundo disco
também trazia regravações, como "River Deep, Mountain High" (sucesso
na voz de Tina Turner), "We Can Work it Out" (Beatles) e
"Kentucky Woman" (Neil Diamond). A composição "Wring That
Neck" (chamada de "Hard Road" nos Estados Unidos, pela violência
do nome) sobreviveu, no setlist do grupo, à extinção da primeira formação no
ano seguinte. Foi o veículo de algumas das mais inspiradas trocas de solos
entre Blackmore e Lord.
Em 1969, Blackmore e Lord estavam descontentes com a
sonoridade do grupo. Ambos queriam experimentar mais com volume e eletricidade,
mas consideravam que a voz de Evans não acompanharia as mudanças. O terceiro
disco do grupo, chamado Deep Purple, reflete a tensão de uma banda que tinha os
pés no rock inglês dos anos 60 e a cabeça em algo que ainda estava por ser
criado. Sob convite do baterista Mick Underwood, em 24 de junho, Blackmore e
Lord foram conferir uma apresentação do grupo Episode Six, de cujo vocalista
(Ian Gillan) o ex-colega de Blackmore havia falado muito bem. Os dois membros
do Deep Purple chegaram a subir ao palco para uma jam. Começou aí o mês mais tenso
e criativamente decisivo em toda a carreira do Deep Purple.
Blackmore, Lord e Paice combinaram um teste com Ian
Gillan. Ele levou seu amigo Roger Glover, baixista também do Episode Six.
Juntos, os cinco gravaram o single "Hallellujah", no dia 7 de junho.
Aprovados os dois, o Deep Purple passou a ter vida dupla. Durante o dia, a
segunda formação ensaiava no Hanwell Community Centre; à noite, a primeira
formação continuava se apresentando como se nada estivesse ocorrendo. Evans e
Simper não sabiam o que estava por acontecer até a véspera da estreia da fase
II nos palcos, em 10 de julho. A situação era tão maluca que, em 10 de junho de
1969, Episode Six e Deep Purple se apresentaram em bailes de Cambridge. O Deep
Purple fez onze apresentações entre a escolha dos novos membros e a estreia da
nova fase; o Episode Six, oito. Mas Gillan e Glover ainda fizeram outros quatro
shows para cumprir contrato com o E6 até o dia 26 de julho, intercalando com os
três primeiros shows da fase II.
Os projetos que já vinham ocorrendo, porém, continuaram.
O terceiro disco tinha acabado de ser lançado na Inglaterra quando a nova
formação, com sua proposta sonora mais ousada, estreou. Jon Lord também estava
finalizando seu Concerto for Group & Orchestra, que seria apresentado no
Royal Albert Hall, com a Royal Philharmonic Orchestra, no dia 24 de setembro.
Nesse dia, além de mostrarem o novo tipo de composição idealizado por Lord
(unindo as linguagens da música erudita e do rock), os ingleses de todas as
classes sociais conheceram "Child in Time", composta ainda em
Hanwell. A composição mostra tudo o que a nova formação trazia de novo em
relação à anterior: mudanças de ritmo, solos poderosos, gritos de banshee. O
novo Deep Purple era elétrico e explosivo, e isso ficaria muito claro no primeiro
disco da nova formação - In Rock, lançado em abril de 1970. Os ingleses puderam
conhecer faixa por faixa do novo disco via BBC durante os vários meses que
levaram ao lançamento. Conheceram inclusive faixas inéditas, como "Jam
Stew", e uma versão primitiva de "Speed King" chamada
"Kneel and Pray", com uma letra completamente diferente e muito mais
maliciosa do que a conhecida e cantada até hoje.
O segundo disco da fase II foi Fireball, que mantém a
eletricidade mas envereda por um caminho mais experimental. Até um country
("Anyone's Daughter") o disco inclui, ao lado de longos instrumentais
como os de "Fools" e canções mais próximas das que havia no disco
anterior, como "Strange Kind of Woman". Os shows da turnê de 1971,
disponíveis apenas em gravações piratas, mostram uma banda mais madura e mais
ousada. É nessa turnê que Ian Gillan começa a fazer duelos de sua voz com a
guitarra de Blackmore, por exemplo.
Conquistando o mundo
O passo seguinte na experimentação do Deep Purple seria
gravar um disco de estúdio feito nas mesmas condições de uma apresentação ao
vivo. Todos juntos, num mesmo ambiente, criando e gravando juntos como nas
longas jams instrumentais que eles faziam no palco. Eles já tinham algumas
músicas quase prontas: "Highway Star" começou a ser criada dentro de
um ônibus, quando um jornalista perguntou como eles criavam suas músicas.
Blackmore disse: "assim", e começou a tocar um riff agitado. Gillan entrou na farra
e começou a improvisar uma letra: "We're on the road, we're on the road,
we're a rock'n'roll ba-and!". Em
setembro, a primeira versão do que seria "Highway Star" já estava
começando a ser experimentada no palco e no programa de TV alemão Beat Club. É
dessa apresentação que vem o clipe de "Highway Star" em que Blackmore
usa um chapéu de bruxo e Gillan balbucia palavras sobre Mickey Mouse e Steve
McQuinn. "Lazy" é outra canção que começou a ser testada no palco
antes de ir ao estúdio.
Em dezembro de 1971, eles haviam achado o local certo
para criar e gravar esse disco: Montreux, na Suíça, onde até hoje ocorre um
famoso festival de jazz. O melhor lugar para gravar seria o grande cassino da
cidade, onde tradicionalmente havia apresentações musicais. O cassino ainda não
estava liberado para o Deep Purple quando eles chegaram - faltava uma última
apresentação, de Frank Zappa, para encerrar a temporada. O grupo, então, foi
assistir ao show. Zappa sempre foi um inovador do rock, e naquela apresentação
em especial ele usava um sintetizador de última geração. No meio do show,
alguém põe fogo no cassino. A música pára. Zappa grita: "FOGO! Arthur
Brown, em pessoa!" e orienta os presentes a deixar o cassino calmamente.
Em entrevistas, Roger Glover conta que todos realmente estavam calmos - o
suficiente para que ele próprio ainda pudesse dar uma olhada no sintetizador
antes de sair do prédio. Enquanto isso, Claude Nobs, que até hoje organiza o
Festival de Jazz de Montreux, corria de um lado para o outro para tirar alguns
espectadores de dentro do cassino.
O grupo foi transferido para o Grande Hotel de Montreux.
No inverno, ele estava vazio, era frio e todos os móveis estavam guardados.
Eles estacionaram do lado de fora a unidade móvel de gravação dos Rolling
Stones, puxaram alguns fios, instalaram confortavelmente seus instrumentos nos
corredores do hotel e começaram a ensaiar. O resultado é que até hoje todos os
shows do Deep Purple contêm ao menos quatro das sete músicas do disco Machine
Head, lançado em 1972.
A história inteira da gravação é contada em poucas
palavras na música "Smoke on the Water", a última a ser gravada no
disco. Blackmore havia criado um riff que não fora usado, apelidado então de
"durrh-durrh". Não havia letra. Então veio a ideia de escrever sobre
o que acontecera na gravação do disco. Gillan afirma que eles estavam num bar
quando Roger Glover escreveu num guardanapo o título da música (que significava
"fumaça sobre a água", uma boa descrição da fotografia que um jornal
publicou no dia seguinte ao incêndio). Glover diz que a expressão lhe surgiu em
um sonho e que Gillan lhe respondeu: "não vai rolar; parece nome de música
sobre drogas, mas nós somos uma banda que bebe". Nenhum deles apostava que
passaria mais de trinta anos tocando "durrh-durrh" toda noite,
tamanho o sucesso que a música alcançou. Apesar de ter sido gravada em
dezembro, ela só entrou no setlist em 9 de março, num show na BBC. Essa
primeira apresentação consta de In Concert 1970-1972.
Smoke On the Water
O ano de 1972 é movimentadíssimo, e nele o Deep Purple
chegou pela primeira vez ao Japão, onde foi gravado seu mais famoso disco ao
vivo, Made in Japan. Na Itália, o grupo também preparava a gravação de Who Do
We Think We Are. O ritmo de trabalho da banda, porém, custou caro a eles. Por
diversas vezes, membros do grupo ficaram doentes. O guitarrista Randy
California chegou a substituir Blackmore em um show, e Roger Glover substituiu
Gillan em outro. Os relacionamentos entre os membros - e especialmente entre
Gillan e Blackmore - também não iam bem. Em dezembro, Gillan entregou seu
pedido de demissão, avisando que deixaria o grupo no final de junho de 1973,
dando aos empresários e aos colegas seis meses para decidir o que fazer do
grupo.